Sentado
sobre o parapeito da ponte, diante dos carros apressados, diante das mensagens
impossíveis dos outdoors, com olhar distante e desacreditado, sem perspectivas,
sem solo, sem suporte, degradado pela intolerância do semelhante, instável
fisicamente, sóbrio metafisicamente, consciente da sua fome, consciente de sua
sede e incontestavelmente correto, solitário e abandonado, voltado por cima do
ombro como sua honra dilacerada pela franqueza da realidade, fora do eixo, sem
harmonia, sem perseverança plantada, cortada pelas hastes metálicas das
abrasividades impostas pelos seus, pelos íntimos que um dia confiou e o
abandonou como um coitado que não mereça a dó, por ser somente um resto da
sociedade, rejeitado como não-reciclável, impresso na paisagem desoladora do
cotidiano ágil e implacável. A severa realidade condenando por suas próprias
mãos, baseada em sentença ainda não pronunciada, não escrita e, muito menos,
codificada. Sentença de crucificação no legítimo sistema da imposição da mão de
ferro, sem alma, sem espírito, sem pudor de ser ferroado com malho sambando no
enlace do ferrão, festejado com sons de níqueis tilintando, soados como
marimbondos nas veias abertas e na surrada pele, transformada pela dilaceração
imposta por tempos e tempos de passividade invasiva. Um corte na alma que
sangra sobre a sombra do viaduto, entre as escoras das vias um dia romanas,
pelas obscuras sobras projetadas sobre seu corpo e pela falta de percepção de
sua existência neste vago mundo de carne e ossos. Como num jazigo a muito
depositado e esquecido pelos entes. Um dia amado por alguém que amamentou, mas
hoje enterrado por alguém em quem confiou. Se tivesse asas pousaria sobre os
postes de luz, ou sobre as torres de condução pois teria como distanciar-se dos
arqueiros e promíscuos gaviões rastejantes. Protegeria sua áurea com a santa
proximidade do nada, do céu dos humanos, da conduta de quem julga e da vazia
solidão que ocupa sua alma, pois poderia escolher que vento o levaria. Mas
tenho a certeza de que este homem não perdeu sua dignidade, pois somente um
humano perfeito tem a capacidade de sentar, apoiar suas mãos e pensar, mesmo
que o conteúdo de seus pensamentos seja um grande vazio...
Os palhaços precisam estar contextualizados, senão eles deixam de ser palhaços e torma-se ridículos diante de uma situação séria ou crítica. A alegria é uma casa de doces...
Uma BANCA DE FLORES possui páginas naturais e perfumadas no seu interior... Esta idéia genial e sustentável deveria ser implantada obrigatoriamente em todas as cidades do mundo, pois somos tão vulneráveis como as orquídeas e nossa alma tão bela quanto o prazer que sentimos ao interagir com a flor...
Se eu contasse ao turista seria capaz de ele não acreditar, que o Mercado da Capixaba, que é parte do local onde surgiu a Capital e depois deu nome aos conterrâneos nascidos no Estado do Espírito Santo encontra-se sucateado e sem infraestrutura alguma para dignificar a visita destes "Cruzeiristas" que frequentam Vitória. Uma lamentável vergonha nós passamos por aqui...
Um inacabado foco de ocupação urbana tornou-se a nossa Capital Capixaba. Tarsila do Amaral esteve por aqui no passado, mas deve estar se revirando, porque agora nos temos a cena ideal que a inspiraria, com certeza, a pintar sua obra prima da sociedade proletariada e subalterna que construímos...Mas fecharia um tema com o tom perfeito.
Um sinal vermelho e uma câmera de monitoramento na rua. Neste ano (2012) foram instaladas câmeras de vigilância aos costumes dos cidadãos. A Cracolândia Capixaba (Ilha do Príncipe), que já serviu de depósito de índios, no passado, precisa de intervenções de fluxo viário, pois é portal de entrada e travessia da Capital Capixaba e não de imposição da ordem a qualquer custo. Todos sabem que se você tratar um viciado no Crack, outros dez serão viciados no dia seguinte, uma corrente desintegradora de vidas e famílias que tem origem lá na classe alta dos industriais de fabricação de produtos químicos. Não existe monitoramento nem controle da venda dos componentes químicos, em separados, que dão origem a este ciclo destruidor da movimentação entorpecente dos produtos originados. Enquanto a segurança depender de atitudes antes da inteligência sempre existirá uma legião de cachimbos cromados fumegando sobre as velhas construções da região sul de Vitória. E o cidadão, perto dalí, sempre a ver navios...